quinta-feira, 26 de junho de 2008
sexta-feira, 20 de junho de 2008
Despedida
Se buscarmos no dicionário o significado de amizade, encontraremos no Aurélio: "sentimento fiel de afeição, simpatia, estima, ternura entre pessoas que geralmente não são ligadas por laços de família ."
Já em um dicionário de espanhol encontrei:
"Relación personal desinteresada, que nace y se fortalece con el trato y está basada en un sentimiento recíproco de cariño y simpatía."
Obrigada por esses anos em que estivemos juntas, em que aprendemos, crescemos e, sobretudo, nos tornamos amigas.
Para encerrar, deixo um poema:
Travessia
"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas ...
Que já têm a forma do nosso corpo ...
E esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares ...
É o tempo da travessia ...
E se não ousarmos fazê-la ...
Teremos ficado ... para sempre ...
À margem de nós mesmos..." (Fernando Pessoa)
Com carinho, Re
terça-feira, 17 de junho de 2008
O título mais simples para esse artigo seria: “Avaliação da educação”. Mas não quero misturar “educação” com aquilo que as escolas fazem. A educação é algo que transborda dos limites das escolas. Por vezes ela se choca com as escolas. Acho que foi Mark Twain que disse que não permitia que a escola interferisse na sua educação... Educação é aquilo que passa a fazer parte do nosso ser. Parte do que sou tem a ver com a música erudita sobre a qual nada se disse nas escolas que freqüentei. Era como se não existisse. Não fazia parte do programa. O mesmo é verdadeiro em relação ao meu prazer em ler, escrever, contemplar a natureza. Essas coisas são parte de mim mesmo. Mas não foi nas escolas que as aprendi. Quando um professor tenta ensinar alguma coisa ele tem de pressupor que aquilo é importante, não vai ser esquecido, vai fazer uma diferença na vida do seu aluno. Caso contrário o seu trabalho não terá sentido. Assim, ele deve ter a curiosidade de saber sobre o destino das informações e habilidades que tentou ensinar. O que aconteceu com elas? Quero sugerir um método para se fazer isso valendo-me de uma metáfora. Imagine que você resolveu se dedicar ao negócio de fabricação de salsichas. Para isso, para transformar carne em salsichas, há uma máquina. Numa das extremidades da máquina coloca-se a carne. Aperta-se um botão. A máquina se põe a funcionar. Na outra extremidade saem as salsichas, prontinhas. Para se avaliar se a máquina é comercialmente vantajosa basta comparar o peso da carne que foi colocada no funil de entrada com o peso das salsichas produzidas. Se, na entrada, se colocaram 100 quilos de carne e saíram 95 quilos de salsichas, a máquina é ótima. Mas se só saírem 10 quilos de salsichas, a máquina não presta. Imaginei que se poderia avaliar o desempenho das escolas por meio de um exame elaborado segundo o modelo da máquina de salsichas. O objetivo seria comparar o que entrou com o que ficou. Freqüentei escolas por dezessete anos: quatro anos no curso primário, um no curso de admissão, quatro no ginásio, três no curso científico e cinco no curso superior. Multipliquei o número de meses, pelo número de dias, pelo número de horas, pelo número de anos: cheguei ao número 16.320 – o número de horas que passei assentado em carteiras ouvindo as coisas que os professores tentavam me ensinar. É claro que esse número deve estar errado. Seja. De qualquer forma, é muito tempo o tempo de vida que se passa assentado nos bancos escolares. O que sobrou? O exame seria assim: Primeiro: o programa seria constituído de tudo, absolutamente tudo que se pretendeu ensinar nesses 17 anos, do primeiro ao último ano. Segundo: aqueles que vão fazer o exame não assinarão os seus nomes porque o que se procura não é o desempenho individual mas o desempenho da máquina escolar. Terceiro: será proibido freqüentar cursos preparatórios para tais exames. Será proibido também recordar a matéria. Se isso fosse feito o propósito do exame seria abortado. Imagine que um diabético tem de fazer um exame de sangue para testar seu nível glicêmico. Mas ele, malandro, querendo enganar o médico, na véspera do exame só come alface com bife e no dia seguinte pela manhã toma um comprimido de Amaril. O resultado do exame seria totalmente falso. O aprendido é aquilo que fica depois que o esquecimento fez o seu trabalho. O exame que proponho quer saber o que sobrou. Se os examinandos se prepararem para o exame os resultados não revelarão o que realmente sobrou, mas o que foi colocado na memória na última hora. Eu me sairia muito mal. Não me lembro das classificações das rochas. Lembro-me dos nomes “dolomitas” e “piroclásticas”, mas não sei o que significam. Esqueci-me do “crivo de Erastóstenes”. Não sei fazer raiz quadrada. Não sei onde se encontra a serra da Mata da Corda. Também me esqueci das dinastias do faraós e dos nomes dos imperadores romanos. Lembro-me do princípio de Arquimedes mas não sei a lei de Avogadro. Não aprendi Latim, o que me causa grande dor porque Latim é música. Sei pouquíssimo de análise sintática, o que não me faz falta para escrever. Escrevo com meu ouvido. Acho que dos 100% de saberes que as escolas tentaram enfiar dentro de mim só sobrariam uns 10%. Você depositaria suas economias mensalmente, num fundo de investimento, por dezessete anos, se você soubesse que depois desses dezessete anos você iria receber só 10% do que você depositou? Alguns concluirão que a culpa é dos professores. Outros que a culpa é dos alunos. Não creio que a culpa seja dos professores ou dos alunos. Acho mesmo é que culpa é da carne que se põe na máquina: ela está estragada. As salsichas cheiram mal. O nariz as reprova. Se comidas, produzem perturbações gástricas. O jeito é vomitá-las. Concluo: a performance das escolas melhorará se a carne estragada for substituída por uma carne que produz salsichas apetitosas... http://www.rubemalves.com.br/avaliacao.htm |
A Escola do Futuro e o Futuro da Escola
Publicado por Marcos Toscano em 20.09.2007
Eu nunca neguei as tendências megalomaníacas de meu pensamento político, em especial no que diz respeito à uma preferência pela discussão antecipada de grandes questões que, acredito, eclodirão num futuro próximo. Gosto de discutir os impactos políticos das novas tecnologias, a nova dinâmica da propriedade que exsurgirá da plena interligação virtual do mundo, as novas formas de ocupação do tempo e da energia humanas em uma era que não mais necessitará do trabalho de massa…
Uma das sortes que tenho na vida são os companheiros que me puxam de volta à realidade e me cobram respostas para as questões de hoje. Em especial Rafael Dubeux, que sempre lembra que não podemos avançar na “agenda do futuro” sem saldar, ao menos em parte, os compromissos da “agenda do passado”. Como pensar nos impactos da manipulação genética em uma país coalhado de miseráveis favelizados e analfabetos?
Se é bem claro que as duas agendas não se excluem, há de se convir que é preciso decidir em qual se deve investir mais tempo e pensamento. Eu, entanto, ando pensando nas interligações desses dois universos de tempo e política. Deixem-me dar um claro exemplo, que desenvolverei brevemente nesse texto. No caso da urgente necessidade de melhoria do nível educacional do povo brasileiro, que faz parte da agenda do passado na tipologia dubesiana, a solução só pode ser dada pela agenda do futuro. Vamos esclarecer o assunto.
A educação pública no Brasil é claramente deficiente. A despeito dos inúmeros problemas com as instalações físicas das escolas, deve-se reconhecer que o problema maior é ligada aos recursos humanos. A pífia remuneração dos professores da escola pública, que fica a cargo de estados e municípios sem recursos, provoca a falta e a baixa qualificação dos educadores. Em resumo, as crianças e os adolescentes matriculados nas instituições públicas de ensino não têm aulas na quantidade e com a qualidade necessárias.
Resolver essa situação não é fácil. Estados e municípios simplesmente não tem condições financeiras para elevar a patamares dignos a remuneração dos professores, para contratá-los em número significativamente maior e nem mesmo para investir pesadamente na capacitação permanente do atual quadro de educadores. A escola tradicional, em que cada professor assume uma turma com uma quantidade moderada de alunos e os acompanha em todos os desenvolvimentos de sua disciplina está fadado ao fracasso, pois o número de alunos é estrondoso. Temos a impressão de que esse modelo funcionou bem no Brasil em tempos passados, mas é uma falsa idéia. Todos os que costumam dizer que escola pública era boa no tempo de seus pais esquecem que, à época, a escola era pra poucos. A paulatina democratização do acesso à educação levou milhões de crianças e adolescentes, antes excluídos do sistema público de ensino, às salas de aula em todo o país.
E então, como desatar esse nó? Senhores, a minha aposta para o futuro da escola é a escola do futuro. Desculpem-me o trocadilho, mas ele traduz bem meu pensamento. O único caminho viável para a melhoria da qualidade do ensino público no Brasil é o abandono do modelo tradicional de educação e a adoção de novas ferramentas tecnológicas. A Universidade Aberta do Brasil (UAB), criada pelo MEC de Fernando Haddad, é um bom começo, pois permite a capacitação simultânea e barata de milhares de professores. Mas é, como disse, só um começo. A tecnologia tem de se incorporar fortemente à escola pública.
A informatização das escolas não deve se restringir à instalação de um pequeno laboratório de micros, mas deve perpassar todas as etapas do processo educativo. Aulas por video-conferência, uso do computador em sala de aula, exibição de filmes-didáticos, tevê-escola etc., são algumas das formas de estruturar um novo modelo. Esses recursos irão nos ajudar a criar uma educação massiva que não seja de baixa qualidade, a reduzir a demanda por professores, a capacitá-los melhor e a remunerá-los melhor, uma vez que o impacto financeiro de salários mais elevados tenderá a ser menor.
A escola do futuro não é só uma questão de inovação tecnológica. Defendo a criação de centros de ensino federais (para o nível médio) geridos pelas Universidades Federais, que serviriam como complementação do sistema de ensino regular. Esses centros seriam frequentados pelos alunos do sistema educacional público que demonstrassem desempenho exemplar nos estudos, nos esportes, nas artes ou mesmo em trabalhos técnicos. Os docentes e discentes das universidades federais se envolveriam diretamente nos centros, que também teriam recursos tecnológicos de ponta. Os alunos que frequentassem os centros seriam monitores em suas respectivas escolas públicas, fazendo com que o investimento neles feito desse retorno para todos os seus colegas.
Tudo que aqui coloquei, claro, é apenas um esboço. Mas um bom esboço, penso, que aponta um caminho para resolvermos o problema da educação pública no Brasil. Se é certo que o futuro trará novas e graves questões a serem resolvidas, também é verdade que ele vai lançando luz sobre muitos pontos da “agenda do passado”. É preciso saber brincar com o tempo.
P.s.: O governo federal vai, mais uma vez, dar aumentos substanciais para a polícia federal, para os advogados da união, para os auditores da receita e para o ciclo de gestão. Os docentes do ensino superior e os pesquisadores de ciência e tecnologia não levarão nada muito substancial, continuando com uma remuneração bem abaixo das citadas categorias. A cegueira dos governantes vai acabando com as nossas parcas chances de mudar esse país…
Marcos Toscano: Marcos Toscano é Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental e faz Mestrado em Filosofia na Universidade de Brasília.